segunda-feira, 3 de maio de 2021

Uma sociedade juridicamente evoluída

A segurança jurídica é uma das finalidades do Direito e um dos pilares fundamentais para que uma sociedade viva em harmonia e paz, produzindo assim uma estabilidade que irá permitir o seu desenvolvimento e evolução.

Os cidadãos, as pessoas coletivas, necessitam de sentir que existem normas aplicadas a todos e que quem não as cumprir, sofrerá sanções. Precisam de saber que todos por igual têm direitos e obrigações e se algum direito não for respeitado podem aceder a um sistema jurídico que resolverá o litígio, ouvindo ambas as partes e decidindo com imparcialidade.

Esta ideia de ordem e paz pretende contrariar a lei natural do mais forte, dominante num tempo muito longínquo em que o ser humano não centrava na lei escrita pelos Homens o modo de reger as suas vidas.

Desde então temos evoluído neste sentido civilizacional e, apesar de ainda termos um longo caminho a percorrer, este modo de vida em sociedade tem permitido a Humanidade criar laços de cooperação, de entreajuda, de respeito fundamental dos direitos humanos, de impor o respeito de igual modo sobre todos os cidadãos e perante todos também.

No entanto, mesmo perante esta conceção do Direito como orientador de uma vida em harmonia entre pessoas e até países diferentes, encontramos comportamentos desviantes, alguns completamente opostos ao estabelecido na nossa Constituição, o “respeito pelos direitos e interesses dos cidadãos”.

Assistimos a abusos e violações de direitos humanos dos cidadãos, alguns deles inadmissíveis à luz do Século XXI, trazem um aumento não apenas dos crimes praticados mas também do seu nível de violência.

Assim como desvios ao cumprimento de obrigações impostas a todos e cuja impunidade é cada vez mais notória e chocante para os cidadãos, criando ideias de injustiça e corrupção no modo como as pessoas percecionam o sistema de justiça.

Tudo isto parece, por vezes, surgir uma visão paradoxal entre o avanço civilizacional e o comportamento desviante dos cidadãos – ou seja, a ideia de que quanto mais evoluídos estamos, pelo menos tecnologicamente, mais violentos e não cumpridores nos tornamos.

É como se a mente humana existisse em polos completamente opostos, afastando-se em vez de se aproximar, como deveria estar a acontecer.

Muito provavelmente temos de repensar as estratégias que temos usado para passar a ideia de respeito pelos direitos de todos e a de responsabilidade em cumprir as obrigações que o Direito nos impõe. Ao fim de contas, o bom cumprimento do Direito e por conseguinte o alcançar os seus objetivos, começa na educação da sociedade e na preparação de cada cidadão para a vida em sociedade.

Continuar a descurar a educação jurídica irá trazer graves problemas e desequilíbrios, e uma sociedade, seja nacional, seja global, instável, não trás vantagens nem a governos nem a cidadãos, sejam particulares sejam coletivos.

O tempo escasseia no que toca a construir um amanhã humanamente mais avançado. Urge apostar em ter o estudo do Direito desde cedo nas escolas, mantê-lo nas várias áreas de ensino e alargá-lo a todas as idades e públicos.

O século XXI deve ser um século de uma sociedade juridicamente fundamentada e evoluída, na ação e no pensamento.


Paula Franco

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