segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

textos ao amanhecer #5

Somos e existimos para além do tempo e do espaço que vemos com os nossos olhos.
Descendentes de antepassados, temos tendência para esquecer ou arquivar num dos cantos da nossa memória as nossas raízes e heranças de outros e, queremos com toda a força, construir um novo eu, como se viéssemos do zero.
É uma bela tentativa de nos afirmarmos na sociedade complexa que habitamos, conquistar um espaço só nosso, que nada tenha a haver com os antepassados que vieram antes de nós.
A nossa ignorância leva-nos a atuar assim.
Na verdade, devíamos saber bem que não seriamos o que somos hoje sem essa evolução de geração em geração; somos o resultado da evolução através dos tempos de uma família que se foi construindo através do tempo e do espaço.
Para o bem e para o mal, carregamos no ADN a história, a memória, a vivência, os traços físicos, a saúde, a doença, os sonhos, os medos, os demónios de todos os que nos antecederam.
Todos esses sonhos e monstros culminaram naquilo que somos hoje.
E devemos ser orgulhosos disso. E não tentar apagar e construir um novo eu, à nossa maneira, como se fossemos uma novidade.
Não somos. Não somos novidade no turbilhão do universo. Somos uma evolução de outras evoluções antes de nós. E daremos lugar a próximas evoluções que se querem melhor que nós.
E ainda bem que carregamos os sonhos e monstros dos nossos antepassados nos genes e os iremos passar a outros. Eles fizeram de nós aquilo que somos hoje.
A única variante que o cosmos nos permite é aquela que Elvis Presley e Frank Sinatra cantavam e imortalizaram, vivermos à nossa maneira.
E a maior parte das pessoas vive de acordo com a sociedade e não à sua maneira, desperdiçando assim a única coisa que podemos efetivamente controlar neste infindável ciclo de vidas que nascem e morrem, que dão origem a outras que darão origem a outras.

P.C. Franco

São Sebastião, circa 1482, Leonardo Da Vinci