sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

os dias de elaphobolia

I

a estrada que encontrei levou-me ao vale dos dias sem fim
& das noites eternas de sonhos outrora sonhados por outros
& outras de lugares e com rostos que nunca vi

II
foi naquele momento suspenso no tempo que vi para lá
do horizonte que eu ambicionava, e, digo-te,
não gostei das terras desconhecidas que se ergueram

III
abracei o oceano e naveguei por tempestades sem sentido,
procurei a margem de um paraíso que nunca existiu,
pretendi um reino que não se vê daqui da minha torre.

IV
um dia, numa manhã como as outras, o vento parou por instantes
e, longe de mim, senti o destino, inalcançável, ali perto, ali distante,
a sorrir-me por entre o véu da minha mente crente na vontade de mover
os mundos de todos os mundos.
a vontade permaneceu apesar das trevas, o horizonte desvaneceu-se,
mas os oceanos continuam, com navios que não se afundam,
à espera de exploradores sem medos das marés & dos Deuses acima de nós.

P.C. Franco

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‘Vendedora de alcatraces’, de Alfredo Ramos Martínez, 1929. Foto: The Alfredo Ramos Martínez Research Project /Museo Whitney