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sexta-feira, 29 de maio de 2020
segunda-feira, 23 de março de 2020
os dias e as noites em que éramos outras gentes
a estrada sem fim perdia-se no horizonte
deixando para trás uma cidade perdida
e abandonada
por todos e pelo tempo.
histórias de outrora não mais foram
contadas, repetidas ou ouvidas.
os novos cresceram sem o passado
que os fez homens e mulheres
de esperança e vontade.
se um dia voltarmos ao que fomos,
ao que acreditámos,
será para lamentarmos os
abraços, as lágrimas, os sorrisos,
que se perderam
em dias e noites em que éramos
outras gentes.
P.C. Franco
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deixando para trás uma cidade perdida
e abandonada
por todos e pelo tempo.
histórias de outrora não mais foram
contadas, repetidas ou ouvidas.
os novos cresceram sem o passado
que os fez homens e mulheres
de esperança e vontade.
se um dia voltarmos ao que fomos,
ao que acreditámos,
será para lamentarmos os
abraços, as lágrimas, os sorrisos,
que se perderam
em dias e noites em que éramos
outras gentes.
P.C. Franco
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os sonhos que se perdem
Naquele dia o mar levou-nos
para longe da terra
que viu os nossos sonhos
erguerem-se do nada.
Outrora sonhadores,
outrora conquistadores...
Tivemos de dizer adeus,
tivemos de nos afastar.
E, do nada, o tempo fechou-nos
na eternidade dos que
jamais regressaram.
P.C. Franco
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para longe da terra
que viu os nossos sonhos
erguerem-se do nada.
Outrora sonhadores,
outrora conquistadores...
Tivemos de dizer adeus,
tivemos de nos afastar.
E, do nada, o tempo fechou-nos
na eternidade dos que
jamais regressaram.
P.C. Franco
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sábado, 7 de março de 2020
o trovão gigante
os trovões gigantes acordaram a cidade e todas as pessoas fugiram
tornaram-se vultos sem nome nem casa nem história
porque fugiram sem levarem as memórias
abandonaram sentimentos e ideias outrora construídos
e ergueram novas paredes e muros à volta do desconhecido
não te esqueças do que já fostes,
não construas de novo sem saberes quem és,
descobre-te nas raízes que carregas no teu íntimo
não te percas.
P.C. Franco
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tornaram-se vultos sem nome nem casa nem história
porque fugiram sem levarem as memórias
abandonaram sentimentos e ideias outrora construídos
e ergueram novas paredes e muros à volta do desconhecido
não te esqueças do que já fostes,
não construas de novo sem saberes quem és,
descobre-te nas raízes que carregas no teu íntimo
não te percas.
P.C. Franco
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image by mylittleadventure |
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
O Joker de Joaquin Phoenix
Numa noite em que se celebram momentos de glória, imortalizam-se pessoas e filmes.
As horas tinham passado e o fim da cerimónia aproximava-se do momento que eu mais aguardava, saber se a Academia de Artes de Hollywood reconhecia Joaquin Phoenix como o Melhor Ator Principal de 2019.
Em causa estava a sua brilhante e perturbadora interpretação de Arthur Fleck, ou podemos dizer, Joker, numa distante e problemática Gotham City que ainda não tinha visto nascer Batman.
Na verdade, o brilhantismo do filme de Todd Phillips, é que nos dá o nascimento de duas personagens do mundo da DC Comics que, apesar de tão diferentes, se complementam: Joker e Batman.
Do caos de repente criado na sua vida ao perder os seus pais, vimos em Bruce Wayne nascer a essência que irá torná-lo no Cavaleiro das Trevas.
Do enigma e desequilíbrio permanente, assistimos a Arthur Fleck caminhar inevitavelmente para um destino de revolta e ódio que envolverá a sua vida como Joker.
A viagem que Arthur faz é acompanhada por todos os espetadores, tendo Joaquin Phoenix conseguido criar no público aquilo que a personagem ia sentindo e no que se tornou.
Por isso o público, de todos os quadrantes que uma sociedade possa ter, aplaudiu esta performance.
Sentimos os passos dados e a evolução ao longo do filme.
Um mestre a interpretar, um ator nascido de um percurso rico em experiências e com um ponto de vista diferente da sociedade, foram ingredientes que fizeram Phoenix imortalizar-se na noite de ontem.
Só uma pessoa diferente poderia ser um ator que provocaria o desespero, a tristeza, a simpatia, a repulsa, simultaneamente nos espetadores.
Finalmente, o reconhecimento de alguém que nasceu para dar vida a outras personagens e torná-las memoráveis.
O Joker de Joaquin Phoenix está inscrito nas estrelas da História da Humanidade.
P.C. Franco
sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
os dias de elaphobolia
I
a estrada que encontrei levou-me ao vale dos dias sem fim
& das noites eternas de sonhos outrora sonhados por outros
& outras de lugares e com rostos que nunca vi
II
foi naquele momento suspenso no tempo que vi para lá
do horizonte que eu ambicionava, e, digo-te,
não gostei das terras desconhecidas que se ergueram
III
abracei o oceano e naveguei por tempestades sem sentido,
procurei a margem de um paraíso que nunca existiu,
pretendi um reino que não se vê daqui da minha torre.
IV
um dia, numa manhã como as outras, o vento parou por instantes
e, longe de mim, senti o destino, inalcançável, ali perto, ali distante,
a sorrir-me por entre o véu da minha mente crente na vontade de mover
os mundos de todos os mundos.
a vontade permaneceu apesar das trevas, o horizonte desvaneceu-se,
mas os oceanos continuam, com navios que não se afundam,
à espera de exploradores sem medos das marés & dos Deuses acima de nós.
P.C. Franco
& das noites eternas de sonhos outrora sonhados por outros
& outras de lugares e com rostos que nunca vi
II
foi naquele momento suspenso no tempo que vi para lá
do horizonte que eu ambicionava, e, digo-te,
não gostei das terras desconhecidas que se ergueram
III
abracei o oceano e naveguei por tempestades sem sentido,
procurei a margem de um paraíso que nunca existiu,
pretendi um reino que não se vê daqui da minha torre.
IV
um dia, numa manhã como as outras, o vento parou por instantes
e, longe de mim, senti o destino, inalcançável, ali perto, ali distante,
a sorrir-me por entre o véu da minha mente crente na vontade de mover
os mundos de todos os mundos.
a vontade permaneceu apesar das trevas, o horizonte desvaneceu-se,
mas os oceanos continuam, com navios que não se afundam,
à espera de exploradores sem medos das marés & dos Deuses acima de nós.
P.C. Franco
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‘Vendedora de alcatraces’, de Alfredo Ramos Martínez, 1929. Foto: The Alfredo Ramos Martínez Research Project /Museo Whitney |
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
assim se vai aos astros | p.c.franco
Um
caminho estreito ladeado de altas paredes de pedra muito antiga era perfeito
para Leo sair da sua cidade sem dar nas vistas e ir à procura da estrela
cintilante.
É
uma lenda, diziam-lhe os amigos, fazendo troça, os nossos pais contam-nos isso
para dormirmos, não existe.
Para
Leo, colocar a hipótese de que os pais lhe mentiam inventando uma história tão
magnífica, era algo perturbante.
Tem
de ser verdade, pensava vezes sem conta. Porque sou só eu a acreditar que é
verdade?
Porque
nunca ninguém viu a estrela cintilante da lenda criadora de mundos. Se nunca
ninguém viu é porque não existe. Ponto final.
Eram
as palavras do seu professor de lógica, sempre que Leo trazia o assunto à
conversa.
Muitas
vezes ficou de castigo e ter de ler temas científicos para ver se esquecia a
lenda.
Depois
chegava a casa e a mãe confortava:
-
Só tu sabes no que queres acreditar. Se os outros nunca viram, não quer dizer
que não esteja algures lá fora.
Leo
concluiu então que a estrela cintilante devia estar fora da cidade e era por
isso que nunca ninguém a tinha visto.
Se
calhar era preciso ir à sua procura, porque ali na cidade nunca a iria ver.
-
Provavelmente a estrela cintilante sabe que ninguém aqui acredita nela e por
isso não aparece.
Pensava
Leo para se convencer do inevitável: tinha de sair da cidade e ir à procura da
estrela cintilante criadora dos mundos.
Passou
o dia todo nervoso na escola, com muito cuidado para não revelar o seu segredo
– logo, depois de ir para a cama, ia sair da cidade.
Sabia
de um caminho que o seu avô falava, em tempos idos, quando as cidades se
comunicavam entre si.
Agora
cada uma está fechada, murada, e não é permitido viajar para fora do território
da cidade.
Poucas
pessoas são as que se lembram desse tempo. Depois do conflito das cidades que
ceifou a vida a muitas pessoas e destruiu grande parte das cidades, foi
decidido por todas não se tornarem a comunicar.
Não
voltou a haver conflitos, mas nunca mais houve também novos amigos e novas
aventuras – só importava a história de cada cidade e a sua sustentabilidade.
Quando
morressem os últimos combatentes, toda uma época da História entre as cidades
de trocas comerciais, sociais, políticas e de tradições, ia desaparecer. Para
sempre.
Leo
crescera já depois do conflito por isso era natural nada saber das outras
cidades e só saber da sua e ter sempre os mesmos amigos, assim como nunca sair
dos muros.
Essa
atitude sempre lhe parecera normal e por isso nunca prestara atenção para além
do que o rodeava. Conhecia os mesmos lugares e as mesmas pessoas desde que se
lembra.
A
certa altura reparou que eram as mesmas de sempre. Gostava delas e dos parques,
dos edifícios, das ruas, da cidade, mas… uma sensação de vazio começou a
crescer dentro de si.
Não
conseguia perceber o que era, mas as questões e dúvidas começaram a surgir na
sua mente e depois nas suas palavras e conversas.
Aí
começaram os seus problemas. Chamado a atenção pelos professores, pelos pais,
por todos os adultos e pelos próprios colegas e amigos. Estava a delirar, a ser
injusto para a vida harmoniosa que tinha, a desrespeitar os que tinham dado a
sua vida do conflito das cidades. Em suma, ninguém sabia o que se passava com Leo
para este comportamento anormal. Na verdade, nem Leo percebia o que lhe estava
a acontecer.
A
única pessoa que nunca proferiu uma única palavra contra Leo foi a sua avó, uma
sobrevivente dos tempos anteriores aos conflitos e que tinha perdido o marido
numa das batalhas.
Mesmo
assim, nunca a ouvira defender o fechamento da cidade ao mundo em nome da paz e
harmonia.
Houve
um dia em que Leo perguntou se não havia pessoas nem lugares diferentes, se
tudo iria ser sempre assim até daqui a muitos anos.
A
avó levantou os olhos e sorriu. E assim começaram as histórias sobre a lenda da
estrela cintilante.
No
início Leo achava que era apenas uma lenda bonita, aos poucos a lenda começou c
tornar-se verdadeira e acabou por adquirir contornos de uma realidade ali fora,
algures.
Estava
instalado o perigo para Leo porque o seu mundo tinha sido abalado e não
conseguia voltar ao mesmo.
Depois
de dias sem fim em que a avó lhe contava a lenda e de sentir que cada vez que a
ouvia parecia que era sempre mais extraordinária do que a vez anterior e, no
entanto, era exatamente a mesma, Leo tomou a inevitável decisão – tinha de ir à
procura da estrela cintilante.
Para
isso, teria de sair da cidade. Para isso, teria de desafiar a ordem
estabelecida. Para isso, teria de ir contra o pensamento de todos aqueles que
sempre conhecera.
A
avó sempre soube que esse seria o desfecho – olhava para Leo e sabia no seu
interior que um dia, o dia da partida chegaria. Com isso, viria a condenação de
Leo por tudo e por todos.
Por
isso, naquele dia, quando o sol amanheceu e deram pela falta de Leo, a avó
sorriu num misto de alegria e tristeza, pois sabia que nunca mais Leo voltaria
a casa. E o resto da cidade de imediato condenou: abandonou-nos porque queria
ir conhecer outros lugares e outras pessoas.
Na
noite em que decidiu ir à aventura – sim, para Leo as coisas não eram assim tão
complicadas nem dramáticas: iria apenas à aventura. E isso era emocionante. Nem
nunca pensou no caos que iria deixar atrás de si na cidade.
Atravessou
o caminho dos clandestinos (que na verdade não demorou assim tanto tempo a
encontrar – uma conversa com a avó, a consulta de uns livros antigos na
biblioteca – à escondida, pois claro, porque a secção dos livros antigos era
reservada apenas aos professores dirigentes) e ficou contente quando acabou –
aquelas passagens estreitas não eram do seu agrado.
Diante
de si estava uma planície sem fim, uma estrada muito larga e sempre a direito.
Não havia árvores, não havia casas, não se vislumbravam montanhas ao longe. Uma
infindável planície e uma estrada no meio, em direção não se sabe onde.
Leo
sentiu-se livre, com terror e pânico, mas uma inexplicável curiosidade e um
“vai tudo correr bem”.
A
lua ia alta e o negro do céu cobria todo o horizonte.
Não
se ouviam vozes, não se viam pessoas, nem edifícios, não se via vida. Pelo
menos, à primeira vista.
A
que distância estará a próxima cidade?”, pensava Leo, “tenho de ter cuidado
para não me verem…”, depois, de repente, um pensamento invadiu a mente.
“E
se a estrela cintilante fica noutra cidade?! Como vou fazer?! Não me vão deixar
vê-la” – o pânico da desilusão ia destruindo todos os sonhos e esperanças.
“Mas
não posso voltar. Não me vão perdoar. E tenho de ir ver.”, imediatamente tentou
organizar os seus pensamentos. “Agora não tenho cidade. Nem a minha nem a dos
outros. Não me vão compreender”. Os seus olhos fixaram o horizonte. O turbilhão
de emoções, pensamentos confusos desesperadamente à procura de lógica, duraram
pouco tempo e deram lugar a uma decisão.
“A
estrela cintilante vai-me compreender.”, cerrou os punhos e a coragem
encheu-lhe os pulmões como se fosse oxigénio.
sic
itur ad astra
P.C. Franco
quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
anima mea | evolução ou ética
Capítulo V
É imoral modificarmos as leis da
Natureza?
Não é isso que o Homem faz desde
que o seu cérebro começou a desenvolver o raciocínio e ganhar consciência?
Não é esse o propósito de ter um
cérebro racional e consciente, a busca pela evolução da espécie?
Se estamos limitados pela ética,
que tipo de evolução teremos?
E quem decide o que é ético e o que,
não é? São as pessoas anónimas ou indivíduos pensantes e com poder sobre a
sociedade?
A opinião de um legislador, de um
cientista, de um cidadão anónimo, de um cidadão com uma doença genética
degenerativa ou com uma pessoa de quem gosta nestas condições, são opiniões
diferentes.
Todas válidas. Mas, mais uma vez,
diferentes. O que coloca a ética sob vários pontos de entendimento e, por consequência,
um modo de ver a vida e a evolução da Humanidade.
É humano sabermos que conseguimos
descobrir a origem de uma doença e por isso erradicá-la do ADN das pessoas que
sofrem ou virão a sofrer e não usarmos esse conhecimento?
Irão sempre haver sacrifícios,
limites que podemos questionar, técnicas e tratamentos que irão falhar até que
os primeiros comecem a ser eficazes e modificarmos a vida de uma pessoa, de uma
família, de uma comunidade, de uma sociedade, da própria Humanidade.
P.C. Franco
reservados os direitos de autor
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quinta-feira, 14 de novembro de 2019
anima mea | capítulo IV | transumanismo
Transumanismo – um futuro
inevitável.
Nascemos limitados pelo facto de
sermos orgânicos e por isso perecíveis, finitos.
É certo que até certa altura da
vida vamos evoluindo e dando o próximo passo no melhoramento do nosso
organismo, todavia a partir de determinado ponto de viragem, é precisamente o
inverso que acontece. Decaímos.
Alguns mais depressa do que
outros, devido a diversas variantes e condicionantes: umas da nossa
responsabilidade, outras nem por isso. Culpa da genética, do meio ambiente, da
área geográfica, de comportamentos dos adultos enquanto eramos crianças, uma
panóplia de influências que vão determinar se o nosso envelhecimento é mais
rápido ou mais acentuado do que de outros seres biológicos que nasceram e
cresceram tal como nós, humanos.
A finitude está presente em quase
tudo na nossa vida, até o próprio planeta é finito. Um dia, daqui a muitos
milhares de anos, coisa que não nos afeta tão cedo mas que há de afetar alguém.
O dia tem um fim, as férias, as
aulas, o dia de trabalho, o contrato de trabalho, o contrato de arrendamento, o
filme, o livro, a viagem, tudo gira à volta de um início, um meio e um fim.
E esse fim atormenta-nos
sobretudo em relação ao nosso organismo e às coisas que podemos fazer enquanto
respiramos por nós próprios, pensamos por nós próprios. Ou seja, o saber que um
dia isso deixará de ser possível do mesmo modo que o fazíamos quando ainda
estávamos a evoluir, dá que pensar.
Tanta coisa ainda por fazer, por
viver, e tão curto espaço de tempo.
Parece que não faz sentido. Dão-nos
vida e depois pouco tempo para a aproveitar. É como partir em desvantagem numa
corrida, o tempo já vai à frente e nós ainda nem arrancámos.
Lidar com isso não é fácil,
aceitar muito menos, viver isso é perturbador. Por muito que algumas pessoas digam
que gostam de chegar a uma idade avançada e até estão a gostar da mesma, não
deve haver um dia que não pensem que gostavam de ainda ter as mesmas
capacidades de quando eram jovens, capacidades físicas e intelectuais que lhes
permitam acompanhar a vida não só deles próprios mas também daqueles que os
rodeiam, de uma forma mais próxima e energética. Nem que fosse somente
acompanharem os que os rodeiam evoluírem. Algo que sabem bem que não o vão
poder fazer até quando gostariam.
É um paradoxo.
Ou então é um desafio de gestão
de tempo. Talvez o nosso objetivo primordial de vida é saber gerir o pouco
tempo biológico que nos é concedido. Nem é ser feliz ou alcançar muito sucesso,
é simplesmente saber gerir o tempo.
Não é fácil crescer com a ideia
presente de que um dia tudo terminará, então o ser humano é ensinado a pensar
de outra forma: construir um legado para deixar a outros. É uma forma de
contornar a ideia de finitude: “não é assim tão mau, vais deixar algo para quem
te seguir”. E assim encaramos os dias e as noites, a construir algo que alguém
irá dar continuidade e que por sua vez irá também deixar a outrem.
Começa a haver quem pense de
outro modo, quem entenda que a nossa vida biológica é demasiado curta e que o
nosso propósito não é apenas viver para os outros nem viver a juntar, criar,
desenvolver algo para os outros.
A busca pela próxima evolução
humana tem subjacente uma demanda pela imortalidade e não pelo legado para os
que nos vão seguir na nossa história.
P.C. Franco
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sexta-feira, 11 de outubro de 2019
anima mea | capítulo III
Os dias de inverno trazem noites
com mais sonhos e pesadelos pois são mais longas e não temos pressa em sair da
cama.
A nossa mente ajusta-se ao nosso
ambiente. Já dizia o Dr. Crane, o Espantalho, em Batman – The Beginning,
interpretado por Cillian Murphy, “fascina-me o poder da mente sobre o corpo e é
por isso que faço o que faço”.
E assim navega por estranhos
mundos dos quais frequentemente não nos lembramos quando a escuridão da noite
se levanta.
Parece que o tempo é mais lento e
arrastado, tudo dá a sensação de eternidade.
E, curiosamente, queremos que o
tempo passe rápido ou, pelo menos, mais rápido.
Será o facto de os dias sem luz
que associamos ao inverno nos causa terror?
O ar sombrio com que passamos os
meses do tempo frio assusta-nos e desespera-nos.
Talvez esteja interligado com a
nossa essência primária de seres vivos diurnos. O medo do escuro sempre atormentou
o Homem desde os tempos primitivos.
Milénios passaram e continuamos a
sentir o mesmo pânico quando há ausência de luz, seja individualmente seja
coletivamente – de imediato associamos à possibilidade de crime e maus eventos.
É curioso a falta de evolução nesse aspeto que atravessa o ser humano, desde o
mero cidadão aos governantes e autoridades.
E tudo porque confiamos apenas no
sentido de visão para ver e perceber o mundo. Esquecemos que não precisamos
de ver para nos protegermos dos demónios e monstros que a escuridão possa
trazer.
Somos a nossa mente, isso é
verdade, mas ela vai para além dos olhos que apenas nos dão um mero e confuso
reflexo da realidade. Se confiássemos mais nos nossos outros sentidos, muito
provavelmente haveriam menos conflitos, desentendidos, desesperos ou nos deixaríamos
conquistar pelos obstáculos que nos surgem e nos conduzem ao medo.
P.C. Franco
reservados os direitos de autor
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quarta-feira, 9 de outubro de 2019
o residente da cidade de Gotham
De tempos a tempos, a sétima arte revela-nos uma obra prima e este ano ficará para a História com Joker: uma inesquecível viagem ao interior da sociedade que pode ser cruel pois enquanto vaticina a destruição de uma pessoa, também promove a criação de uma nova.
Mostra-nos as nossas falhas enquanto humanos e enquanto coletividade.
Num único pensamento, Joker faz-nos pensar que as nossas ações e as nossas omissões têm consequências irreparáveis.
Aliado à nossa viagem juntamos uma interpretação perfeita e irrepreensível de um dos mais enigmáticos atores e homens contemporâneos, Joaquin Phoenix.
A par com Phoenix, temos a sublime banda sonora criada por Hildur Guðnadóttir, a cinematografia de Lawrence Sher e obviamente a história escrita de propósito para Phoenix, por Todd Phillips e Scott Silver combinada com a visão brilhante de Phillips enquanto diretor de Joker.
A fronteira que separa o humanismo que Arthur Fleck tem e a sua agressividade perante uma parte da sociedade que o abandona é a luta que travamos diariamente dentro de nós.
Que sejam mais os dias e as noites em que nos mantemos sãos e menos aqueles em que sucumbimos.
P.C. Franco
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
domingo, 29 de setembro de 2019
sábado, 28 de setembro de 2019
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
anima mea | capítulo II
Perseguimos a eternidade para não
sucumbirmos ao esquecimento, para não dizermos adeus ao e aos que amamos, para
não nos esquecermos dos momentos que vivemos.
Abandonados para sempre na
escuridão da memória, sem nunca mais ouvirmos o nosso nome ser dito, é uma
ideia que impregna o nosso coração humano de pavor, desespero e pânico.
De que somos feitos para nos
consumir desta forma a nossa finitude?
Reminiscências de um passado do
qual não nos lembramos e que nos coloca como seres gloriosos e eternos?
Sempre conhecemos a nossa
limitação, ninguém transcendeu, até hoje, as barreiras da vida e não conheceu a
morte.
Como pode algo que nunca fomos
nem nunca tivemos, ser determinante da nossa vida?
Afinal, nada sabemos sobre a
eternidade.
Todos os nossos dias têm um fim.
Todavia, nascemos com um desejo
de ser eternos e, cada um à sua maneira, luta pela continuidade da sua memória,
uns à sua volta, outros pela História em si.
Teremos sido outrora eternos, e
terá sido essa eternidade apagada da nossa consciência mas não do nosso ADN?
E se voltarmos a ser eternos? O
que se segue na nossa continua busca pelas estrelas?
P.C. Franco
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
little thoughts about transcendence | pc franco
The perfect symphony of the universe transcends the limitation of our existence.
Understanding it is an obligation inherent in our way of being.
However, we are fully aware of the impossibility of the noble task.
Nevertheless, our insistence and persistence on this mission reveals that we are either descendants from the stars or we are destined to go to them and look at us from above.
P.C. Franco
all author rights reserved
Understanding it is an obligation inherent in our way of being.
However, we are fully aware of the impossibility of the noble task.
Nevertheless, our insistence and persistence on this mission reveals that we are either descendants from the stars or we are destined to go to them and look at us from above.
P.C. Franco
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Mozart Symphony No 38 |
pequenos pensamentos sobre transcendência
A perfeita sinfonia do universo transcende a finitude da nossa existência.
Compreendê-la é uma obrigação inerente ao nosso modo de ser.
Todavia, temos a plena consciência da impossibilidade da tarefa.
Daí que a nossa insistência e persistência nessa tarefa revela que ou descendemos das estrelas ou estamos destinados a ir ter com elas e olhar para nós lá de cima.
P.C. Franco
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quinta-feira, 12 de setembro de 2019
domingo, 8 de setembro de 2019
as palavras de Tal
"Somos seres sem um mundo a que possamos chamar nosso.
Vagueamos pelas estrelas sem saber o que está por detrás dos astros,
e assim ficamos, sempre sós, eternamente condenados a percorrer
o infinito.
o horizonte é longínquo de tudo e de todos
e, quando voltarmos, nunca mais será o mesmo.
Tenta não esquecer de onde vens, tenta lembrar-te
para não te perderes na dança cósmica
daquilo que te rodeia e chama por ti."
Vagueamos pelas estrelas sem saber o que está por detrás dos astros,
e assim ficamos, sempre sós, eternamente condenados a percorrer
o infinito.
o horizonte é longínquo de tudo e de todos
e, quando voltarmos, nunca mais será o mesmo.
Tenta não esquecer de onde vens, tenta lembrar-te
para não te perderes na dança cósmica
daquilo que te rodeia e chama por ti."
Estas foram as palavras de Tal, o grande fundador do planeta Vor que Hanan leu pausadamente a Laura.
Quando fechou o livro sagrado da criação do universo estava na expetativa da primeira reação da nova hóspede, era conhecida por não ter as respostas previsíveis como os outros viajantes que por ali passavam.
Estranhamente, Laura não foi capaz de dizer nada. Isso foi tão estranho que deixou confusa a própria Laura.
P. C. Franco
(excerto retirado da história O Povo das Estrelas. Reservados todos os direitos de autor)
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