segunda-feira, 23 de março de 2020

os dias e as noites em que éramos outras gentes

a estrada sem fim perdia-se no horizonte
deixando para trás uma cidade perdida
e abandonada
por todos e pelo tempo.

histórias de outrora não mais foram
contadas, repetidas ou ouvidas.
os novos cresceram sem o passado
que os fez homens e mulheres
de esperança e vontade.

se um dia voltarmos ao que fomos,
ao que acreditámos, 
será para lamentarmos os
abraços, as lágrimas, os sorrisos,
que se perderam
em dias e noites em que éramos
outras gentes.

P.C. Franco

reservados os direitos de autor | all rights reserved 



os sonhos que se perdem

Naquele dia o mar levou-nos
para longe da terra
que viu os nossos sonhos
erguerem-se do nada.
Outrora sonhadores,
outrora conquistadores...
Tivemos de dizer adeus,
tivemos de nos afastar.
E, do nada, o tempo fechou-nos
na eternidade dos que
jamais regressaram.

P.C. Franco

reservados os direitos de autor | all rights reserved 





sábado, 7 de março de 2020

o trovão gigante

os trovões gigantes acordaram a cidade e todas as pessoas fugiram
tornaram-se vultos sem nome nem casa nem história
porque fugiram sem levarem as memórias
abandonaram sentimentos e ideias outrora construídos
e ergueram novas paredes e muros à volta do desconhecido

não te esqueças do que já fostes,
não construas de novo sem saberes quem és,
descobre-te nas raízes que carregas no teu íntimo 

não te percas.

P.C. Franco


reservados os direitos de autor | all rights reserved 

image by mylittleadventure

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

O Joker de Joaquin Phoenix

Numa noite em que se celebram momentos de glória, imortalizam-se pessoas e filmes.
As horas tinham passado e o fim da cerimónia aproximava-se do momento que eu mais aguardava, saber se a Academia de Artes de Hollywood reconhecia Joaquin Phoenix como o Melhor Ator Principal de 2019.
Em causa estava a sua brilhante e perturbadora interpretação de Arthur Fleck, ou podemos dizer, Joker, numa distante e problemática Gotham City que ainda não tinha visto nascer Batman.
Na verdade, o brilhantismo do filme de Todd Phillips, é que nos dá o nascimento de duas personagens do mundo da DC Comics que, apesar de tão diferentes, se complementam: Joker e Batman.
Do caos de repente criado na sua vida ao perder os seus pais, vimos em Bruce Wayne nascer a essência que irá torná-lo no Cavaleiro das Trevas.
Do enigma e desequilíbrio permanente, assistimos a Arthur Fleck caminhar inevitavelmente para um destino de revolta e ódio que envolverá a sua vida como Joker.
A viagem que Arthur faz é acompanhada por todos os espetadores, tendo Joaquin Phoenix conseguido criar no público aquilo que a personagem ia sentindo e no que se tornou. 
Por isso o público, de todos os quadrantes que uma sociedade possa ter, aplaudiu esta performance.
Sentimos os passos dados e a evolução ao longo do filme.
Um mestre a interpretar, um ator nascido de um percurso rico em experiências e com um ponto de vista diferente da sociedade, foram ingredientes que fizeram Phoenix imortalizar-se na noite de ontem.
Só uma pessoa diferente poderia ser um ator que provocaria o desespero, a tristeza, a simpatia, a repulsa, simultaneamente nos espetadores. 
Finalmente, o reconhecimento de alguém que nasceu para dar vida a outras personagens e torná-las memoráveis.
O Joker de Joaquin Phoenix está inscrito nas estrelas da História da Humanidade.

P.C. Franco 




sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

os dias de elaphobolia

I

a estrada que encontrei levou-me ao vale dos dias sem fim
& das noites eternas de sonhos outrora sonhados por outros
& outras de lugares e com rostos que nunca vi

II
foi naquele momento suspenso no tempo que vi para lá
do horizonte que eu ambicionava, e, digo-te,
não gostei das terras desconhecidas que se ergueram

III
abracei o oceano e naveguei por tempestades sem sentido,
procurei a margem de um paraíso que nunca existiu,
pretendi um reino que não se vê daqui da minha torre.

IV
um dia, numa manhã como as outras, o vento parou por instantes
e, longe de mim, senti o destino, inalcançável, ali perto, ali distante,
a sorrir-me por entre o véu da minha mente crente na vontade de mover
os mundos de todos os mundos.
a vontade permaneceu apesar das trevas, o horizonte desvaneceu-se,
mas os oceanos continuam, com navios que não se afundam,
à espera de exploradores sem medos das marés & dos Deuses acima de nós.

P.C. Franco

reservados os direitos de autor
all author rights reserved 



‘Vendedora de alcatraces’, de Alfredo Ramos Martínez, 1929. Foto: The Alfredo Ramos Martínez Research Project /Museo Whitney

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

assim se vai aos astros | p.c.franco


Um caminho estreito ladeado de altas paredes de pedra muito antiga era perfeito para Leo sair da sua cidade sem dar nas vistas e ir à procura da estrela cintilante.

É uma lenda, diziam-lhe os amigos, fazendo troça, os nossos pais contam-nos isso para dormirmos, não existe.

Para Leo, colocar a hipótese de que os pais lhe mentiam inventando uma história tão magnífica, era algo perturbante.

Tem de ser verdade, pensava vezes sem conta. Porque sou só eu a acreditar que é verdade?

Porque nunca ninguém viu a estrela cintilante da lenda criadora de mundos. Se nunca ninguém viu é porque não existe. Ponto final.

Eram as palavras do seu professor de lógica, sempre que Leo trazia o assunto à conversa.
Muitas vezes ficou de castigo e ter de ler temas científicos para ver se esquecia a lenda.

Depois chegava a casa e a mãe confortava:

- Só tu sabes no que queres acreditar. Se os outros nunca viram, não quer dizer que não esteja algures lá fora.

Leo concluiu então que a estrela cintilante devia estar fora da cidade e era por isso que nunca ninguém a tinha visto.

Se calhar era preciso ir à sua procura, porque ali na cidade nunca a iria ver.

- Provavelmente a estrela cintilante sabe que ninguém aqui acredita nela e por isso não aparece.

Pensava Leo para se convencer do inevitável: tinha de sair da cidade e ir à procura da estrela cintilante criadora dos mundos.

Passou o dia todo nervoso na escola, com muito cuidado para não revelar o seu segredo – logo, depois de ir para a cama, ia sair da cidade.

Sabia de um caminho que o seu avô falava, em tempos idos, quando as cidades se comunicavam entre si.

Agora cada uma está fechada, murada, e não é permitido viajar para fora do território da cidade.

Poucas pessoas são as que se lembram desse tempo. Depois do conflito das cidades que ceifou a vida a muitas pessoas e destruiu grande parte das cidades, foi decidido por todas não se tornarem a comunicar.

Não voltou a haver conflitos, mas nunca mais houve também novos amigos e novas aventuras – só importava a história de cada cidade e a sua sustentabilidade.

Quando morressem os últimos combatentes, toda uma época da História entre as cidades de trocas comerciais, sociais, políticas e de tradições, ia desaparecer. Para sempre.

Leo crescera já depois do conflito por isso era natural nada saber das outras cidades e só saber da sua e ter sempre os mesmos amigos, assim como nunca sair dos muros.

Essa atitude sempre lhe parecera normal e por isso nunca prestara atenção para além do que o rodeava. Conhecia os mesmos lugares e as mesmas pessoas desde que se lembra.

A certa altura reparou que eram as mesmas de sempre. Gostava delas e dos parques, dos edifícios, das ruas, da cidade, mas… uma sensação de vazio começou a crescer dentro de si.

Não conseguia perceber o que era, mas as questões e dúvidas começaram a surgir na sua mente e depois nas suas palavras e conversas.

Aí começaram os seus problemas. Chamado a atenção pelos professores, pelos pais, por todos os adultos e pelos próprios colegas e amigos. Estava a delirar, a ser injusto para a vida harmoniosa que tinha, a desrespeitar os que tinham dado a sua vida do conflito das cidades. Em suma, ninguém sabia o que se passava com Leo para este comportamento anormal. Na verdade, nem Leo percebia o que lhe estava a acontecer.

A única pessoa que nunca proferiu uma única palavra contra Leo foi a sua avó, uma sobrevivente dos tempos anteriores aos conflitos e que tinha perdido o marido numa das batalhas.

Mesmo assim, nunca a ouvira defender o fechamento da cidade ao mundo em nome da paz e harmonia.

Houve um dia em que Leo perguntou se não havia pessoas nem lugares diferentes, se tudo iria ser sempre assim até daqui a muitos anos.

A avó levantou os olhos e sorriu. E assim começaram as histórias sobre a lenda da estrela cintilante.

No início Leo achava que era apenas uma lenda bonita, aos poucos a lenda começou c tornar-se verdadeira e acabou por adquirir contornos de uma realidade ali fora, algures.

Estava instalado o perigo para Leo porque o seu mundo tinha sido abalado e não conseguia voltar ao mesmo.

Depois de dias sem fim em que a avó lhe contava a lenda e de sentir que cada vez que a ouvia parecia que era sempre mais extraordinária do que a vez anterior e, no entanto, era exatamente a mesma, Leo tomou a inevitável decisão – tinha de ir à procura da estrela cintilante.

Para isso, teria de sair da cidade. Para isso, teria de desafiar a ordem estabelecida. Para isso, teria de ir contra o pensamento de todos aqueles que sempre conhecera.

A avó sempre soube que esse seria o desfecho – olhava para Leo e sabia no seu interior que um dia, o dia da partida chegaria. Com isso, viria a condenação de Leo por tudo e por todos.

Por isso, naquele dia, quando o sol amanheceu e deram pela falta de Leo, a avó sorriu num misto de alegria e tristeza, pois sabia que nunca mais Leo voltaria a casa. E o resto da cidade de imediato condenou: abandonou-nos porque queria ir conhecer outros lugares e outras pessoas.

Na noite em que decidiu ir à aventura – sim, para Leo as coisas não eram assim tão complicadas nem dramáticas: iria apenas à aventura. E isso era emocionante. Nem nunca pensou no caos que iria deixar atrás de si na cidade.

Atravessou o caminho dos clandestinos (que na verdade não demorou assim tanto tempo a encontrar – uma conversa com a avó, a consulta de uns livros antigos na biblioteca – à escondida, pois claro, porque a secção dos livros antigos era reservada apenas aos professores dirigentes) e ficou contente quando acabou – aquelas passagens estreitas não eram do seu agrado.

Diante de si estava uma planície sem fim, uma estrada muito larga e sempre a direito. Não havia árvores, não havia casas, não se vislumbravam montanhas ao longe. Uma infindável planície e uma estrada no meio, em direção não se sabe onde.

Leo sentiu-se livre, com terror e pânico, mas uma inexplicável curiosidade e um “vai tudo correr bem”.

A lua ia alta e o negro do céu cobria todo o horizonte.

Não se ouviam vozes, não se viam pessoas, nem edifícios, não se via vida. Pelo menos, à primeira vista.

A que distância estará a próxima cidade?”, pensava Leo, “tenho de ter cuidado para não me verem…”, depois, de repente, um pensamento invadiu a mente.

“E se a estrela cintilante fica noutra cidade?! Como vou fazer?! Não me vão deixar vê-la” – o pânico da desilusão ia destruindo todos os sonhos e esperanças.

“Mas não posso voltar. Não me vão perdoar. E tenho de ir ver.”, imediatamente tentou organizar os seus pensamentos. “Agora não tenho cidade. Nem a minha nem a dos outros. Não me vão compreender”. Os seus olhos fixaram o horizonte. O turbilhão de emoções, pensamentos confusos desesperadamente à procura de lógica, duraram pouco tempo e deram lugar a uma decisão.

“A estrela cintilante vai-me compreender.”, cerrou os punhos e a coragem encheu-lhe os pulmões como se fosse oxigénio.

sic itur ad astra


P.C. Franco 
todos os direitos reservados  


quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

anima mea | evolução ou ética


Capítulo V

É imoral modificarmos as leis da Natureza?

Não é isso que o Homem faz desde que o seu cérebro começou a desenvolver o raciocínio e ganhar consciência?

Não é esse o propósito de ter um cérebro racional e consciente, a busca pela evolução da espécie?

Se estamos limitados pela ética, que tipo de evolução teremos?

E quem decide o que é ético e o que, não é? São as pessoas anónimas ou indivíduos pensantes e com poder sobre a sociedade?

A opinião de um legislador, de um cientista, de um cidadão anónimo, de um cidadão com uma doença genética degenerativa ou com uma pessoa de quem gosta nestas condições, são opiniões diferentes.

Todas válidas. Mas, mais uma vez, diferentes. O que coloca a ética sob vários pontos de entendimento e, por consequência, um modo de ver a vida e a evolução da Humanidade.

É humano sabermos que conseguimos descobrir a origem de uma doença e por isso erradicá-la do ADN das pessoas que sofrem ou virão a sofrer e não usarmos esse conhecimento?

Irão sempre haver sacrifícios, limites que podemos questionar, técnicas e tratamentos que irão falhar até que os primeiros comecem a ser eficazes e modificarmos a vida de uma pessoa, de uma família, de uma comunidade, de uma sociedade, da própria Humanidade.

P.C. Franco

reservados os direitos de autor
all rights reserved 





quinta-feira, 14 de novembro de 2019

anima mea | capítulo IV | transumanismo


Transumanismo – um futuro inevitável.
Nascemos limitados pelo facto de sermos orgânicos e por isso perecíveis, finitos.
É certo que até certa altura da vida vamos evoluindo e dando o próximo passo no melhoramento do nosso organismo, todavia a partir de determinado ponto de viragem, é precisamente o inverso que acontece. Decaímos.
Alguns mais depressa do que outros, devido a diversas variantes e condicionantes: umas da nossa responsabilidade, outras nem por isso. Culpa da genética, do meio ambiente, da área geográfica, de comportamentos dos adultos enquanto eramos crianças, uma panóplia de influências que vão determinar se o nosso envelhecimento é mais rápido ou mais acentuado do que de outros seres biológicos que nasceram e cresceram tal como nós, humanos.
A finitude está presente em quase tudo na nossa vida, até o próprio planeta é finito. Um dia, daqui a muitos milhares de anos, coisa que não nos afeta tão cedo mas que há de afetar alguém.
O dia tem um fim, as férias, as aulas, o dia de trabalho, o contrato de trabalho, o contrato de arrendamento, o filme, o livro, a viagem, tudo gira à volta de um início, um meio e um fim.
E esse fim atormenta-nos sobretudo em relação ao nosso organismo e às coisas que podemos fazer enquanto respiramos por nós próprios, pensamos por nós próprios. Ou seja, o saber que um dia isso deixará de ser possível do mesmo modo que o fazíamos quando ainda estávamos a evoluir, dá que pensar.
Tanta coisa ainda por fazer, por viver, e tão curto espaço de tempo.
Parece que não faz sentido. Dão-nos vida e depois pouco tempo para a aproveitar. É como partir em desvantagem numa corrida, o tempo já vai à frente e nós ainda nem arrancámos.
Lidar com isso não é fácil, aceitar muito menos, viver isso é perturbador. Por muito que algumas pessoas digam que gostam de chegar a uma idade avançada e até estão a gostar da mesma, não deve haver um dia que não pensem que gostavam de ainda ter as mesmas capacidades de quando eram jovens, capacidades físicas e intelectuais que lhes permitam acompanhar a vida não só deles próprios mas também daqueles que os rodeiam, de uma forma mais próxima e energética. Nem que fosse somente acompanharem os que os rodeiam evoluírem. Algo que sabem bem que não o vão poder fazer até quando gostariam.
É um paradoxo.
Ou então é um desafio de gestão de tempo. Talvez o nosso objetivo primordial de vida é saber gerir o pouco tempo biológico que nos é concedido. Nem é ser feliz ou alcançar muito sucesso, é simplesmente saber gerir o tempo.
Não é fácil crescer com a ideia presente de que um dia tudo terminará, então o ser humano é ensinado a pensar de outra forma: construir um legado para deixar a outros. É uma forma de contornar a ideia de finitude: “não é assim tão mau, vais deixar algo para quem te seguir”. E assim encaramos os dias e as noites, a construir algo que alguém irá dar continuidade e que por sua vez irá também deixar a outrem.
Começa a haver quem pense de outro modo, quem entenda que a nossa vida biológica é demasiado curta e que o nosso propósito não é apenas viver para os outros nem viver a juntar, criar, desenvolver algo para os outros.
A busca pela próxima evolução humana tem subjacente uma demanda pela imortalidade e não pelo legado para os que nos vão seguir na nossa história.

P.C. Franco

reservados os direitos de autor | all rights reserved 



sexta-feira, 11 de outubro de 2019

anima mea | capítulo III

Os dias de inverno trazem noites com mais sonhos e pesadelos pois são mais longas e não temos pressa em sair da cama.
A nossa mente ajusta-se ao nosso ambiente. Já dizia o Dr. Crane, o Espantalho, em Batman – The Beginning, interpretado por Cillian Murphy, “fascina-me o poder da mente sobre o corpo e é por isso que faço o que faço”.
E assim navega por estranhos mundos dos quais frequentemente não nos lembramos quando a escuridão da noite se levanta.
Parece que o tempo é mais lento e arrastado, tudo dá a sensação de eternidade.
E, curiosamente, queremos que o tempo passe rápido ou, pelo menos, mais rápido.
Será o facto de os dias sem luz que associamos ao inverno nos causa terror?
O ar sombrio com que passamos os meses do tempo frio assusta-nos e desespera-nos.
Talvez esteja interligado com a nossa essência primária de seres vivos diurnos. O medo do escuro sempre atormentou o Homem desde os tempos primitivos.
Milénios passaram e continuamos a sentir o mesmo pânico quando há ausência de luz, seja individualmente seja coletivamente – de imediato associamos à possibilidade de crime e maus eventos. É curioso a falta de evolução nesse aspeto que atravessa o ser humano, desde o mero cidadão aos governantes e autoridades.
E tudo porque confiamos apenas no sentido de visão para ver e perceber o mundo. Esquecemos que não precisamos de ver para nos protegermos dos demónios e monstros que a escuridão possa trazer.

Somos a nossa mente, isso é verdade, mas ela vai para além dos olhos que apenas nos dão um mero e confuso reflexo da realidade. Se confiássemos mais nos nossos outros sentidos, muito provavelmente haveriam menos conflitos, desentendidos, desesperos ou nos deixaríamos conquistar pelos obstáculos que nos surgem e nos conduzem ao medo.

P.C. Franco
reservados os direitos de autor
all rights reserved 


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

o residente da cidade de Gotham

De tempos a tempos, a sétima arte revela-nos uma obra prima e este ano ficará para a História com Joker: uma inesquecível viagem ao interior da sociedade que pode ser cruel pois enquanto vaticina a destruição de uma pessoa, também promove a criação de uma nova.

Mostra-nos as nossas falhas enquanto humanos e enquanto coletividade.

Num único pensamento, Joker faz-nos pensar que as nossas ações e as nossas omissões têm consequências irreparáveis.

Aliado à nossa viagem juntamos uma interpretação perfeita e irrepreensível de um dos mais enigmáticos atores e homens contemporâneos, Joaquin Phoenix.

A par com Phoenix, temos a sublime banda sonora criada por Hildur Guðnadóttir, a cinematografia de Lawrence Sher e obviamente a história escrita de propósito para Phoenix, por Todd Phillips e Scott Silver combinada com a visão brilhante de Phillips enquanto diretor de Joker.

A fronteira que separa o humanismo que Arthur Fleck tem e a sua agressividade perante uma parte da sociedade que o abandona é a luta que travamos diariamente dentro de nós.

Que sejam mais os dias e as noites em que nos mantemos sãos e menos aqueles em que sucumbimos.

P.C. Franco







segunda-feira, 7 de outubro de 2019

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

anima mea | capítulo II

Perseguimos a eternidade para não sucumbirmos ao esquecimento, para não dizermos adeus ao e aos que amamos, para não nos esquecermos dos momentos que vivemos.
Abandonados para sempre na escuridão da memória, sem nunca mais ouvirmos o nosso nome ser dito, é uma ideia que impregna o nosso coração humano de pavor, desespero e pânico.
De que somos feitos para nos consumir desta forma a nossa finitude?
Reminiscências de um passado do qual não nos lembramos e que nos coloca como seres gloriosos e eternos?
Sempre conhecemos a nossa limitação, ninguém transcendeu, até hoje, as barreiras da vida e não conheceu a morte.
Como pode algo que nunca fomos nem nunca tivemos, ser determinante da nossa vida?
Afinal, nada sabemos sobre a eternidade.
Todos os nossos dias têm um fim.
Todavia, nascemos com um desejo de ser eternos e, cada um à sua maneira, luta pela continuidade da sua memória, uns à sua volta, outros pela História em si.
Teremos sido outrora eternos, e terá sido essa eternidade apagada da nossa consciência mas não do nosso ADN?
E se voltarmos a ser eternos? O que se segue na nossa continua busca pelas estrelas?

P.C. Franco





sexta-feira, 20 de setembro de 2019

little thoughts about transcendence | pc franco

The perfect symphony of the universe transcends the limitation of our existence.
Understanding it is an obligation inherent in our way of being.
However, we are fully aware of the impossibility of the noble task.
Nevertheless, our insistence and persistence on this mission reveals that we are either descendants from the stars or we are destined to go to them and look at us from above.

P.C. Franco

all author rights reserved 

Mozart Symphony No 38


pequenos pensamentos sobre transcendência

A perfeita sinfonia do universo transcende a finitude da nossa existência.
Compreendê-la é uma obrigação inerente ao nosso modo de ser.
Todavia, temos a plena consciência da impossibilidade da tarefa.
Daí que a nossa insistência e persistência nessa tarefa revela que ou descendemos das estrelas ou estamos destinados a ir ter com elas e olhar para nós lá de cima.

P.C. Franco

reservados os direitos de autor | all author rights reserved 


domingo, 8 de setembro de 2019

as palavras de Tal

"Somos seres sem um mundo a que possamos chamar nosso.
Vagueamos pelas estrelas sem saber o que está por detrás dos astros,
e assim ficamos, sempre sós, eternamente condenados a percorrer 
o infinito.
o horizonte é longínquo de tudo e de todos
e, quando voltarmos, nunca mais será o mesmo.
Tenta não esquecer de onde vens, tenta lembrar-te
para não te perderes na dança cósmica 
daquilo que te rodeia e chama por ti." 

Estas foram as palavras de Tal, o grande fundador do planeta Vor que Hanan leu pausadamente a Laura. 
Quando fechou o livro sagrado da criação do universo estava na expetativa da primeira reação da nova hóspede, era conhecida por não ter as respostas previsíveis como os outros viajantes que por ali passavam.
Estranhamente, Laura não foi capaz de dizer nada. Isso foi tão estranho que deixou confusa a própria Laura.

P. C. Franco 

(excerto retirado da história O Povo das Estrelas. Reservados todos os direitos de autor)




poema I