Desta vez o convidado é Manuel Junior, Advogado e atualmente a frequentar o curso de Business Law na Universidade de Macau, China.
O TWS agradece a colaboração do nosso convidado sobretudo por um artigo que nos leva numa verdadeira aventura por Macau! Aqui fica e espero que se deixem encantar pela mítica do oriente como eu me deixei! Puramente fabulosa esta terra, outrora sob alçada portuguesa e onde ainda é possível encontrar inumeras memórias, bem vivas, de Portugal.
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MACAU:
a experiência dos sentidos
Macau,
trinta e um de Março de dois mil e oito. Um dia como outro qualquer. Não! Não
seria um dia como outro qualquer. Foi o dia em que troquei olhares com Macau
pela primeira vez e que, anos mais tarde, recordaria como o dia chave de toda a mudança que se
iria operar na minha vida.
O
contraste de luzes de cores variadas e a fina, porém, agradável chuva que se
fazia sentir naquela noite, conferia um efeito mágico ao lugar. Centenas, para
não dizer milhares de pessoas, enchiam as ruas num frenesim por mim jamais
experienciado, apesar da minha vocação (e alma) de viajante. As luzes vinham de
todas as direções e seguiam, de igual forma, em todas as direções. Hotéis,
casinos, casinos-hotéis, enormes joalherias em que o brilho das peças em
exposição competia em pé de igualdade com a luminosidade artificial do
exterior.
O
inigualável aroma no ar, assim como as luzes, acompanhavam os meus passos. Não
era capaz de os distinguir. Uma experiência olfativa totalmente desconhecida
para mim. Se a pudesse descrever, diria que se pudesse tratar uma mistura de
ervas aromáticas, talvez gengibre... seria necessário tirar a dúvida e apelar a
outro sentido que não o olfato.
A
herança portuguesa em Macau, vista de uma forme geral, e fruto de mais de
quatro séculos de ocupação lusa, deixou marcas indeléveis e é patente em
qualquer esquina do território, muito embora a tendência, infelizmente, seja o
desaparecimento gradual da mesma. Desde os nomes das ruas, escritas em
português e cantonense, à famosa calçada portuguesa presente na Praça do Leal
Senado, passando ainda pela rica gastronomia macaense, resultado da fusão entre
as cozinhas portuguesa e chinesa, tudo demonstra a perfeita sintonia alcançada
entra duas culturas tao ricas mas simultaneamente tão distintas.
Praça do Leal Senado – ex libris da arquitetura portuguesa |
A
entrada num dos muitos casinos envolve qualquer visitante numa sumptuosidade de
se arregalar os olhos. Não há pormenores deixados ao acaso. Desde os
magnificientes candeeiros em cristal, às centenas de lojas de marcas de luxo,
tudo reluz, tudo hipnotiza e enebria os sentidos.
Por
mais criativa e pormenorizada que seja, qualquer tentativa de descrição do que
é verdadeiramente sentir e viver Macau estará demasiado aquém da realidade. Uma
realidade onde o Ocidente e o Oriente se cruzam e se completam nos mais
variados aspectos, desde a arquitetura até à gastronomia, onde se percebe a
grandiosidade da herança cultural deixada por Portugal, ainda que não
devidamente valorizada pelas gentes locais – apenas 2,5% da população fala a
língua de Camões - e onde se entende a
razão de Macau ser hoje em dia considerada a “Meca do Jogo” a nível mundial.
Casino Grand Lisboa inaugurado em 2007 |
Exíguo
território de apenas 29 km2, a Região Administrativa Especial de Macau, assim
denominada após o fim da administração portuguesa e consequente “devolução” à
China em 1999, é constituida pela península de Macau e por duas ilhas, Taipa e
Coloane, hoje interligadas por uma faixa de terra que é possivelmente um dos
locais mais prósperos do Mundo, a que se dá o nome de Cotai. É nesse local onde
se poderá encontrar, entre outros, os internacionalmente conhecidos casinos
Venetian, considerado um dos maiores edifícios do Mundo, o visualmente poderoso
complexo Galaxy e ainda o exuberante City of Dreams. Em Novembro de 2014, mais
seis casinos se encontram em construção em Macau, entre os quais o Lisboa
Palace, inspirado no Palácio de Versalhes e que tem nomes como Karl Lagerfeld e
Donatella Versace ligados ao seu futuro lançamento em 2017.
Galaxy Macau, localizado em Cota |
Lisboa Palace – inauguração prevista para 2017 |
City of Dreams e o seu complexo de hotéis, incluindo o famoso Hard Rock Hotel |
Vista
aérea de Macau e uma das pontes de ligação à Taipa
|
Este ano, seis anos após o “primeiro olhar”, decidi que
já estava cansado desta “relação” à distância e tomei a decisão que terá sido a
mais importante e séria de toda a minha vida tanto a nível profissional como
pessoal. Eu que nasci no Brasil, vivi a maior parte da vida em Portugal e há
apenas quatro meses encarei o desafio asiático, como qualquer outra pessoa que
decide sair da sua zona de conforto e procurar novos desafios de vida, sofro de
uma certa ansiedade no que toca ao futuro. Será normal, digo eu. No entanto, e
apesar das enormes diferenças existentes entre o mundo ocidental e a Ásia,
atenuadas, neste caso em particular pela relativa proximidade cultural entre
Portugal e Macau, sinto-me em casa.
A barreira linguística, que à partida poder-se-ia
considerar um obstáculo de fundo para qualquer falante de português, é atenuada
através de um domínio razoável da língua inglesa. Mas nem sempre. Do universo
populacional de cerca de seiscentas mil pessoas, apenas uma pequena fasquia
domina o português, na maior parte dos casos portugueses emigrados e macaenses,
entendendendo-se “macaense” como um cidadão nascido em território de Macau, e
portanto chinês, mas com ascendência portuguesa. Considerando que a outra
língua oficial da RAEM (Região Administrativa Especial de Macau), para além da
portuguesa, é o Cantonense (Macau se encontra localizado na província de
Guandong ou Cantão), por vezes a comunicação torna-se difícil mesmo entre os
próprios chineses, na medida em que, apesar de o dialeto ser falado por mais de
setenta milhões de pessoas residentes em toda a província, tais como Hong Kong
e Guangzhou, a grande maioria da população chinesa fala mandarim.
Muito embora a economia de Macau se centre basicamente
no jogo, existe um claro impulso por parte do Governo para a diversificação,
sendo que a ideia será transformar Macau num centro de eventos e congresos a
nível mundial, assim como num polo académico de reputação internacional. O novo campus da Universidade
de Macau, com uma área de cerca de novecentos e quarenta e cinco mil metros
quadrados, e onde atualmente frequento um curso de pós-graduação, é das maiores
da Ásia e tende a tornar-se num centro académico de intercâmbio mundial de
estudantes.
Novo campus da Universidade de Macau – 2014 |
Por todos os motivos expostos, nomeadamente a herança
cultural portuguesa, a gastronomia, o facto de se tratar de uma região que
atingiu um nível tão elevado de prosperidade que permitiu colocar-se na quarta
posição dos países com maior PIB do mundo, entre outras razões que não
conseguiria aqui resumir, considero Macau um destino obrigatório, não apenas
para os que, assim como eu, são apaixonados pelo Oriente, mas para todas as
pessoas que encaram um novo destino como uma forma de enriquecimento e evolução
pessoal. Assim é Macau, a verdadeira experiência dos sentidos.
by Manuel Junior
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