sexta-feira, 11 de outubro de 2019

anima mea | capítulo III

Os dias de inverno trazem noites com mais sonhos e pesadelos pois são mais longas e não temos pressa em sair da cama.
A nossa mente ajusta-se ao nosso ambiente. Já dizia o Dr. Crane, o Espantalho, em Batman – The Beginning, interpretado por Cillian Murphy, “fascina-me o poder da mente sobre o corpo e é por isso que faço o que faço”.
E assim navega por estranhos mundos dos quais frequentemente não nos lembramos quando a escuridão da noite se levanta.
Parece que o tempo é mais lento e arrastado, tudo dá a sensação de eternidade.
E, curiosamente, queremos que o tempo passe rápido ou, pelo menos, mais rápido.
Será o facto de os dias sem luz que associamos ao inverno nos causa terror?
O ar sombrio com que passamos os meses do tempo frio assusta-nos e desespera-nos.
Talvez esteja interligado com a nossa essência primária de seres vivos diurnos. O medo do escuro sempre atormentou o Homem desde os tempos primitivos.
Milénios passaram e continuamos a sentir o mesmo pânico quando há ausência de luz, seja individualmente seja coletivamente – de imediato associamos à possibilidade de crime e maus eventos. É curioso a falta de evolução nesse aspeto que atravessa o ser humano, desde o mero cidadão aos governantes e autoridades.
E tudo porque confiamos apenas no sentido de visão para ver e perceber o mundo. Esquecemos que não precisamos de ver para nos protegermos dos demónios e monstros que a escuridão possa trazer.

Somos a nossa mente, isso é verdade, mas ela vai para além dos olhos que apenas nos dão um mero e confuso reflexo da realidade. Se confiássemos mais nos nossos outros sentidos, muito provavelmente haveriam menos conflitos, desentendidos, desesperos ou nos deixaríamos conquistar pelos obstáculos que nos surgem e nos conduzem ao medo.

P.C. Franco
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quarta-feira, 9 de outubro de 2019

o residente da cidade de Gotham

De tempos a tempos, a sétima arte revela-nos uma obra prima e este ano ficará para a História com Joker: uma inesquecível viagem ao interior da sociedade que pode ser cruel pois enquanto vaticina a destruição de uma pessoa, também promove a criação de uma nova.

Mostra-nos as nossas falhas enquanto humanos e enquanto coletividade.

Num único pensamento, Joker faz-nos pensar que as nossas ações e as nossas omissões têm consequências irreparáveis.

Aliado à nossa viagem juntamos uma interpretação perfeita e irrepreensível de um dos mais enigmáticos atores e homens contemporâneos, Joaquin Phoenix.

A par com Phoenix, temos a sublime banda sonora criada por Hildur Guðnadóttir, a cinematografia de Lawrence Sher e obviamente a história escrita de propósito para Phoenix, por Todd Phillips e Scott Silver combinada com a visão brilhante de Phillips enquanto diretor de Joker.

A fronteira que separa o humanismo que Arthur Fleck tem e a sua agressividade perante uma parte da sociedade que o abandona é a luta que travamos diariamente dentro de nós.

Que sejam mais os dias e as noites em que nos mantemos sãos e menos aqueles em que sucumbimos.

P.C. Franco