quinta-feira, 14 de novembro de 2019

anima mea | capítulo IV | transumanismo


Transumanismo – um futuro inevitável.
Nascemos limitados pelo facto de sermos orgânicos e por isso perecíveis, finitos.
É certo que até certa altura da vida vamos evoluindo e dando o próximo passo no melhoramento do nosso organismo, todavia a partir de determinado ponto de viragem, é precisamente o inverso que acontece. Decaímos.
Alguns mais depressa do que outros, devido a diversas variantes e condicionantes: umas da nossa responsabilidade, outras nem por isso. Culpa da genética, do meio ambiente, da área geográfica, de comportamentos dos adultos enquanto eramos crianças, uma panóplia de influências que vão determinar se o nosso envelhecimento é mais rápido ou mais acentuado do que de outros seres biológicos que nasceram e cresceram tal como nós, humanos.
A finitude está presente em quase tudo na nossa vida, até o próprio planeta é finito. Um dia, daqui a muitos milhares de anos, coisa que não nos afeta tão cedo mas que há de afetar alguém.
O dia tem um fim, as férias, as aulas, o dia de trabalho, o contrato de trabalho, o contrato de arrendamento, o filme, o livro, a viagem, tudo gira à volta de um início, um meio e um fim.
E esse fim atormenta-nos sobretudo em relação ao nosso organismo e às coisas que podemos fazer enquanto respiramos por nós próprios, pensamos por nós próprios. Ou seja, o saber que um dia isso deixará de ser possível do mesmo modo que o fazíamos quando ainda estávamos a evoluir, dá que pensar.
Tanta coisa ainda por fazer, por viver, e tão curto espaço de tempo.
Parece que não faz sentido. Dão-nos vida e depois pouco tempo para a aproveitar. É como partir em desvantagem numa corrida, o tempo já vai à frente e nós ainda nem arrancámos.
Lidar com isso não é fácil, aceitar muito menos, viver isso é perturbador. Por muito que algumas pessoas digam que gostam de chegar a uma idade avançada e até estão a gostar da mesma, não deve haver um dia que não pensem que gostavam de ainda ter as mesmas capacidades de quando eram jovens, capacidades físicas e intelectuais que lhes permitam acompanhar a vida não só deles próprios mas também daqueles que os rodeiam, de uma forma mais próxima e energética. Nem que fosse somente acompanharem os que os rodeiam evoluírem. Algo que sabem bem que não o vão poder fazer até quando gostariam.
É um paradoxo.
Ou então é um desafio de gestão de tempo. Talvez o nosso objetivo primordial de vida é saber gerir o pouco tempo biológico que nos é concedido. Nem é ser feliz ou alcançar muito sucesso, é simplesmente saber gerir o tempo.
Não é fácil crescer com a ideia presente de que um dia tudo terminará, então o ser humano é ensinado a pensar de outra forma: construir um legado para deixar a outros. É uma forma de contornar a ideia de finitude: “não é assim tão mau, vais deixar algo para quem te seguir”. E assim encaramos os dias e as noites, a construir algo que alguém irá dar continuidade e que por sua vez irá também deixar a outrem.
Começa a haver quem pense de outro modo, quem entenda que a nossa vida biológica é demasiado curta e que o nosso propósito não é apenas viver para os outros nem viver a juntar, criar, desenvolver algo para os outros.
A busca pela próxima evolução humana tem subjacente uma demanda pela imortalidade e não pelo legado para os que nos vão seguir na nossa história.

P.C. Franco

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