Transumanismo – um futuro
inevitável.
Nascemos limitados pelo facto de
sermos orgânicos e por isso perecíveis, finitos.
É certo que até certa altura da
vida vamos evoluindo e dando o próximo passo no melhoramento do nosso
organismo, todavia a partir de determinado ponto de viragem, é precisamente o
inverso que acontece. Decaímos.
Alguns mais depressa do que
outros, devido a diversas variantes e condicionantes: umas da nossa
responsabilidade, outras nem por isso. Culpa da genética, do meio ambiente, da
área geográfica, de comportamentos dos adultos enquanto eramos crianças, uma
panóplia de influências que vão determinar se o nosso envelhecimento é mais
rápido ou mais acentuado do que de outros seres biológicos que nasceram e
cresceram tal como nós, humanos.
A finitude está presente em quase
tudo na nossa vida, até o próprio planeta é finito. Um dia, daqui a muitos
milhares de anos, coisa que não nos afeta tão cedo mas que há de afetar alguém.
O dia tem um fim, as férias, as
aulas, o dia de trabalho, o contrato de trabalho, o contrato de arrendamento, o
filme, o livro, a viagem, tudo gira à volta de um início, um meio e um fim.
E esse fim atormenta-nos
sobretudo em relação ao nosso organismo e às coisas que podemos fazer enquanto
respiramos por nós próprios, pensamos por nós próprios. Ou seja, o saber que um
dia isso deixará de ser possível do mesmo modo que o fazíamos quando ainda
estávamos a evoluir, dá que pensar.
Tanta coisa ainda por fazer, por
viver, e tão curto espaço de tempo.
Parece que não faz sentido. Dão-nos
vida e depois pouco tempo para a aproveitar. É como partir em desvantagem numa
corrida, o tempo já vai à frente e nós ainda nem arrancámos.
Lidar com isso não é fácil,
aceitar muito menos, viver isso é perturbador. Por muito que algumas pessoas digam
que gostam de chegar a uma idade avançada e até estão a gostar da mesma, não
deve haver um dia que não pensem que gostavam de ainda ter as mesmas
capacidades de quando eram jovens, capacidades físicas e intelectuais que lhes
permitam acompanhar a vida não só deles próprios mas também daqueles que os
rodeiam, de uma forma mais próxima e energética. Nem que fosse somente
acompanharem os que os rodeiam evoluírem. Algo que sabem bem que não o vão
poder fazer até quando gostariam.
É um paradoxo.
Ou então é um desafio de gestão
de tempo. Talvez o nosso objetivo primordial de vida é saber gerir o pouco
tempo biológico que nos é concedido. Nem é ser feliz ou alcançar muito sucesso,
é simplesmente saber gerir o tempo.
Não é fácil crescer com a ideia
presente de que um dia tudo terminará, então o ser humano é ensinado a pensar
de outra forma: construir um legado para deixar a outros. É uma forma de
contornar a ideia de finitude: “não é assim tão mau, vais deixar algo para quem
te seguir”. E assim encaramos os dias e as noites, a construir algo que alguém
irá dar continuidade e que por sua vez irá também deixar a outrem.
Começa a haver quem pense de
outro modo, quem entenda que a nossa vida biológica é demasiado curta e que o
nosso propósito não é apenas viver para os outros nem viver a juntar, criar,
desenvolver algo para os outros.
A busca pela próxima evolução
humana tem subjacente uma demanda pela imortalidade e não pelo legado para os
que nos vão seguir na nossa história.
P.C. Franco
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