quarta-feira, 24 de julho de 2019

ancient children

Alpha Dimension.

Observation.


Thunders crossing the sky
making stars collapsing
into her heart
breaking them
in falling pieces
A constantly seek outside
daydreams & nightmares
a lost paradise
somewhere forgotten
Ancient children around the world
in search of new worlds

Someone says,
I've been waiting for you.
Here Iam.

P.C.Franco

Yoko Ono poems 

quinta-feira, 18 de julho de 2019

os visionários do planeta xeiq

As ruas pareciam que se perdiam por entre os altos prédios da cidade de Vur, uma cidade que ficava para lá do mar verde escuro que cobria o planeta Xeiq.

Seres muito apressados percorriam os passeios, numa tal azáfama que era impossível perceber. Os carros circulavam em dois sentidos, sem pararem em sinais de trânsito, cada carro entrava na rua, depois saia, depois entrava outro, sucessivamente.

Erg nunca tinha ali estado, não conseguia perceber aqueles movimentos dinâmicos e mecânicos. Encostou-se a uma parede e deixou-se ali ficar por uns longos minutos, a observar.

Tinha chegado algumas horas antes no comboio rápido que fazia a ligação entre as cidades de Xeiq e estava a anos luz de se sentir bem e orientado naquela cidade nova.

Na verdade, não fosse a sua determinação em encontrar o guardador de livros mais antigo do planeta, já estaria arrependido de ali estar. A sua cidade, Lorq, era muito mais calma e ordenada.

No entanto, em Lorq tinha-se acabado com a profissão de guardador de livros. Com o desaparecimento do último, a cidade ficou orfã de quem a protegesse do esquecimento dos livros em papel.

Há muitos anos, nas Guerras Tecnológicas, em que o Ramo Digital tomou o poder, que já não se imprimiam livros em papel. Apenas um grupo de pessoas, chamados Os Visionários, insistiam em ler livros em papel. Como já não se faziam mais, os Visionários trocavam entre si os livros e (era apenas um rumor) havia quem estivesse a escrever livros novos. Chamavam-lhe os Marginais.

Entretanto, com o desaparecimento do último Guardador de Livros de Lorq, a Casa do Poder do Ramo Digital, apreendeu os livros e estes foram encarcerados nos túmulos esquecidos.

Ora, Erg queria ler. Queria continuar a ler os livros. Então, numa noite de grande silêncio, decidiu que iria até à cidade de Vur, onde se constava que vivia o mais antigo Guardador de Livros e que tinha uma infindável coleção de livros de todas as histórias. Dizia-se que até tinha sobre as Civilizações Perdidas e também de outros planetas.

Desde criança que Erg sonhava com conhecer a história dos outros planetas e, quando mais avançava na idade, maior era o sonho agora acompanhado de um plano.

Assim, meteu-se um comboio rápido e, cheio de nervos e entusiasmo, esperou que este chegasse a Vur.

Agora que ali estava apercebeu-se que não tinha delineado um plano completo e em condições pois agora não sabia o que fazer.

As cores, as luzes, os sons, as imagens que pareciam vir do nada, preenchiam as ruas.

Vur era o centro governamental do planeta, onde residia a sede do Ramo Digital e seu exército por isso a presença digital era muito profunda ali.

Não deixava de ser curioso ser ali que havia o maior grupo de Marginais e a maior coleção de livros de Xeiq.

Perdido nos seus pensamentos e nos seus medos, paralisado e sem ação, Erg estava a começar a entrar em pânico.

Nisto, ouviu uma voz vinda do escuro.
- Ei, tu, vem para aqui antes que te achem suspeito.

Instintivamente Erg deu um pulo e seguiu a voz que vinha de uma lateral da rua onde se encontrava.

Aproximou-se do escuro e um rosto surgiu-lhe. Era uma rapariga muito morena, com um capuz na cabeça e envergando vestes com cores castanhas. Nas mangas largas, os símbolos de Vur.

Em Xeiq, os cidadãos usavam os símbolos das suas cidades nas mangas das roupas, não era permitido numa cidade usar os símbolos de outra.

Nas centrais dos comboios existem avisos por todo o lado “Troque os seus símbolos. Está em Vur. Use o hexágono verde. Bem vindo a Vur, cidadão de Xeiq.”

Erg esqueceu-se por completo de ir ao registo dar conta da sua presença ali e pedir para lhe mudarem, por via da tecnologia, os símbolos de Lorq que usava nas suas mangas.

Ficou ainda mais em pânico.

- Não costumas viajar muito, pois não? Metes-te num sarilho ao não ires ao registo dos símbolos. – depois de uma pausa, a rapariga tirou um casaco da sua mochila e entregou a Erg. – Toma, veste. Assim não te vão mandar parar e levarem-te para a detenção e averiguação.

Sem questionar, Erg vestiu imediatamente o casaco.

- Obrigado. – disse ele, visivelmente agradecido.
- Então, que fazes aqui? O que vens à procura? – perguntou a rapariga apesar de que a Erg lhe pareceu que ela desconfiava dele.
- Acabaram-se os livros na minha cidade, Lorq. Ficámos sem o nosso último Guardador de Livros – e baixou a cabeça tristemente – e os livros foram apreendidos. Mas eu quero continuar a ler! – e levantou a cabeça, determinado.

A rapariga sorriu e estendeu-lhe a mão.

- Anda. Vem comigo conhecer o nosso Clube dos Marginais de Vur. Temos muitos livros para leres. E mais ainda.

Os olhos de Erg brilharam.

- Vocês andam a escrever livros novos?! E o vosso Guardador tem livros sobre os outros planetas? – a sua voz não conseguia conter o seu entusiasmo.

A rapariga riu-se.

- Sim. Somos loucos. Mas estamos apaixonados pelo universo e por encontrar outros como nós noutros planetas.

E fez uma pausa.

- Descobrimos um noutra galáxia, distante. Um planeta azul.
- E…? – Erg pulava de alegria.
- Enviámos uma mensagem. Mas não sabemos se eles perceberam e se vão responder.

Erg estava eufórico com as palavras da sua nova amiga. Já nem se lembrava dos seus medos e do pânico que ainda há pouco sentia.

- Temos de ir. A qualquer momento podemos ter uma mensagem do planeta Azul.

Erg e a sua amiga desapareceram pela rua escura e silenciosa. Os seus corações imaginavam grandes conversas com os habitantes deste planeta azul, fossem eles como fossem. Mas não podiam falar disto aos outros habitantes de Vur. Ninguém acreditava que outro planeta tivesse vida inteligente como em Xeiq e essa loucura já tinha custado a muitos Visionários o desaparecimento da sociedade.


P.C. Franco

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