Descendentes
de antepassados, temos tendência para esquecer ou arquivar num dos cantos da
nossa memória as nossas raízes e heranças de outros e, queremos com toda a
força, construir um novo eu, como se viéssemos do zero.
É
uma bela tentativa de nos afirmarmos na sociedade complexa que habitamos,
conquistar um espaço só nosso, que nada tenha a haver com os antepassados que
vieram antes de nós.
A
nossa ignorância leva-nos a atuar assim.
Na
verdade, devíamos saber bem que não seriamos o que somos hoje sem essa evolução
de geração em geração; somos o resultado da evolução através dos tempos de uma
família que se foi construindo através do tempo e do espaço.
Para
o bem e para o mal, carregamos no ADN a história, a memória, a vivência, os
traços físicos, a saúde, a doença, os sonhos, os medos, os demónios de todos os
que nos antecederam.
Todos
esses sonhos e monstros culminaram naquilo que somos hoje.
E
devemos ser orgulhosos disso. E não tentar apagar e construir um novo eu, à
nossa maneira, como se fossemos uma novidade.
Não
somos. Não somos novidade no turbilhão do universo. Somos uma evolução de
outras evoluções antes de nós. E daremos lugar a próximas evoluções que se
querem melhor que nós.
E
ainda bem que carregamos os sonhos e monstros dos nossos antepassados nos genes
e os iremos passar a outros. Eles fizeram de nós aquilo que somos hoje.
A
única variante que o cosmos nos permite é aquela que Elvis Presley e Frank
Sinatra cantavam e imortalizaram, vivermos à nossa maneira.
E
a maior parte das pessoas vive de acordo com a sociedade e não à sua maneira,
desperdiçando assim a única coisa que podemos efetivamente controlar neste
infindável ciclo de vidas que nascem e morrem, que dão origem a outras que
darão origem a outras.
P.C. Franco
P.C. Franco
São Sebastião, circa 1482, Leonardo Da Vinci |