Hoje o THE WORLD SHAPE blog dá inicio a um espaço novo que consiste no convite lançado a um convidado para escrever sobre um tema determinado.
Com esta rubrica pretendo lançar no blog um espaço mais alargado de troca de conhecimento, visto eu ser uma aficionada / viciada em knowledge!
Do meu ponto de vista, a vida só faz sentido se for vivida, partilhada com os outros pois guardar experiências fantásticas que se passam ao nosso redor ou em que nos vemos envolvidos, não tem qualquer sentido ou utilidade. A diversidade cultural, de pensamento, de contextos sociais, geográficos, religiosos, étnicos, é que traz sabor e aventura à vida.
O primeiro convidado a quem o THE WORLD SHAPE lançou este desafio foi a Rui Munhoz, viajante por natureza, vontade e determinação, colocou por escrito a sua visão de algo que hoje em dia faz todo o sentido, o ser-se cidadão do Mundo.
O muito obrigado pela disponibilidade e a todos os seguidores do blog uma boa leitura!
Be always in a shanti mood, World :)
TheWorldShape blog invites:
Rui Neves Munhoz
"Ser cidadão.
Cada opinião, cada ideia, valem apenas o que podem
valer e as minhas pesam certamente muito pouco, nos dogmas, dos que me rodeiam.
Tenho muitas dúvidas e escassas certezas, mas continuo a acreditar no homem, na
solidariedade, na tolerância e na mãe natureza.
‘’Ser cidadão’’ representa a acção e ‘’estar
cidadão’’ significa a omissão, neste difícil equilíbrio ético, cumpre-se a
nossa missão. ‘’Ser cidadão’’ é o inverso de caminhar por entre os pingos da
chuva; é ousar desobedecer; é saber pensar; ter responsabilidade social, ter
consciência da realidade circundante; é lutar com as palavras, sacrificando a
própria vida, por uma vida melhor.
Com a cidadania não acontece o mesmo que com as
leis da natureza e da física, que são universais e imutáveis, porque a
cidadania é entendida, de modo diferente, por cada povo, por cada cultura.
Conforme os preconceitos e as atitudes culturais e religiosas, impõem um
comportamento social, ou regras de conduta. Num mundo perfeito, existiriam esses
pilares estruturantes e inalienáveis da cidadania, que têm a ver com a
dignidade e direitos do homem, independentemente das questões sociais,
geográficas e religiosas. Sei que sou utópico, mas se perdermos a capacidade de
reinventar a utopia, então perderemos o que nos resta de humanidade.
É com tristeza que grito e escrevo, que a plenitude
de ‘’ser cidadão’’, não se cumpre para metade da humanidade.
Em mais de uma centena de países, a mulher não é
‘’ser’’, é ‘’objecto’’; escrava, mutilada, abusada, encarcerada, amordaçada,
silenciosa e submissa, traficada entre a sua família e a família do marido
proprietário, sem direito a falar, ou sequer pensar. Como pode o ser humano ser
a invenção suprema de um deus, se o seu destino não se cumpre em metade de si
próprio?
Em mais de uma centena de países, as crianças não
cumprem o seu destino de crianças, sendo-lhes negado o acesso fundamental à
saúde, à educação, a uma família, a um futuro digno. Obrigadas a trabalhos
forçados, à violência física e moral, estaremos a criar homens que nunca foram
crianças.
Em mais de uma centena de países, a humanidade
conhece apenas o medo e a fome, submissa a dogmas e religiões, a opressores e
torturadores.
Em mais de duas centenas de países, o homem é
escravo do seu semelhante, sem direito à dignidade de um trabalho remunerado,
sem saber o significado da palavra esperança.
Na Europa, onde já se viveu uma cidadania plena, que
está hoje tendencialmente ameaçada e amordaçada no Sul Atlântico e
Mediterrânico, o imperativo categórico da democracia, extingue-se com o
surgimento de novos paradigmas do estado, da sociedade e do direito. Governos
castigadores e de vocações totalitárias, afastam o estado do cidadão, semeando
medos, onde deveria soprar o vento da cidadania e da sustentabilidade.
Na América latina, muito se construiu, em termos de
cidadania, direitos humanos e participação, ao longo das últimas décadas. As
ditaduras militares foram substituídas por governos populistas, com preocupações
sociais, mas prevalecem assimetrias e desigualdades trágicas.
Nos Estados Unidos, a democracia é uma miragem, e
apenas no Canadá, se cumprem os direitos e deveres inalienáveis do cidadão.
Em África, governos totalitários e corruptos,
antagonismos religiosos, exploração dos recursos naturais por trabalho escravo,
genocídio, mutilações e violações, fome, sede, doenças e medo, dominam um
continente rico de recursos naturais e habitado por populações miseráveis.
No médio Oriente e na Ásia, os direitos humanos e a
cidadania, permanecem inexistentes, na quase totalidade do continente.
Na longínqua Oceânia, a Austrália e Nova Zelândia,
são exemplos de democracia e de cidadania, mas com fantasmas de um passado
recente de discriminação racial, em relação ás populações autóctones.
Ser cidadão, em Portugal, é usar as palavras, ditas
e escritas, é semear uma indómita vontade de mudança. É libertar um país
amordaçado, triste e deprimido, onde o maior medo é o medo de ter medo. Ser
cidadão, em Portugal, é acreditar que a um povo não se rouba nunca a dignidade."
Rui Neves Munhoz
as fotos são da autoria de rui neves munhoz, todos os direitos de autor estão reservados.
são fotos que revelam a realidade de inumeras crianças indianas, o trabalho infantil.
all rights reserved | photo by rui neves munhoz |
all rights reserved | photo by rui neves munhoz |
all rights reserved | photo by rui neves munhoz |
all rights reserved | photo by rui neves munhoz |