Capítulo I
As árvores altas que rodeavam a aldeia
protegiam de certo modo os seus habitantes do mundo cruel que havia lá fora.
A Guerra durava há vários meses e apenas
sabiam disto. O mensageiro trouxera as tristes novidades numa manhã cinzenta em
que o sol não tinha aparecido.
O jovem álfar tinha acabado de acordar e
preparava-se para a sua aula de artes e rituais ancestrais quando todos os
habitantes foram chamados ao largo principal para ouvir o álfar líder falar a
todos.
Aquilo apanhou-o de surpresa pois tudo à
sua volta parecia-lhe em perfeita harmonia e paz: a Natureza estava perfeita,
os seus familiares e amigos com ar sereno e calmo, os animais continuavam as
suas rotinas.
Como poderia o mundo estar a arder em
chamas e a caminhar para a destruição quando tudo parecia em paz?
O jovem acabou por perceber que era apenas
tudo aparentemente e que a sua aldeia não era o mundo e descobrir que o mundo
não cabia na sua aldeia despertou nele um sentimento novo.
De repente os seus olhos brilhavam e a sua
mente viajava à velocidade da luz.
O que haveria para além das árvores?
O infinito, meu jovem, o infinito! Ouvia ele
dentro de si.
E correu para casa, tão depressa quanto as
pernas lhe permitam.
Capítulo II
O jovem álfar equipou-se com aquilo que
achou que lhe seria útil no mundo para lá das árvores, enquanto imaginava o
mundo.
Na mente dele a palavra “Guerra” nem ganhava
espaço, apenas pensava que haveria outras aldeias, outros seres lá for a e ele
queria ir conhecê-los.
Ninguém o compreendeu e ele foi chamado à
presença do álfar líder.
Compareceu cheio de medo, via-se no seu
rosto e por momentos pensou que o seu sonho tinha ido longe demais. Não tinha
pensado nos outros e muito menos que não iam compreender a sua decisão.
Mas o líder não o proibiu de partir. Também
não o incentivou. Olhou para ele durante segundos que lhe pareceram eternos e
disse que ele ia descobrir que o mundo era cruel e não o poderia proteger longe
dali.
O jovem compreendeu e partiu.
Um sentimento misto invadiu-lhe a mente:
sentia que tinha de ir, e sentia um mau pressentimento quanto ao que ia
encontrar.
Depois vou voltar e contar o que vi!,
pensava ele.
Depois de passar as árvores o mundo mudou
radicalmente. As pessoas que encontrava não lhe falavam, nunca mais viu o sol e
havia muito barulho, ruídos que ele não conhecia e vozes muito aflitas.
Houve momentos em que teve muitas dúvidas
sobre se tinha feito bem. No entanto, depressa percebeu que mais tarde ou mais
cedo a Guerra iria chegar à sua aldeia, era inevitável. E, por isso, devia
avisar os seus familiares e amigos do que aí vinha para se defenderem. Afinal,
ou se está no mundo ou não se está. Não é possível estar e não fazer parte dos
eventos que o assolavam: e foi a primeira vez que o jovem álfar teve a visão do
todo.
O mundo é um todo. Todos somos um povo. O povo
do mundo., pensava o jovem.
O seu coração chorava perante as
atrocidades que se tinham espalhado por todos os lugares e chorava a falta do
sol e dos animais.
Teria o Vanir abandonado o que se passava
na terra dos Homens e dos seres mágicos?
Teriam os Homens sido entregues ao seu
destino e a Guerra iria também chegar aos seres mágicos, envolvendo, assim,
todos no mesmo ragnarok?
De repente, a sua visão de todo um só planeta
a sofrer em conjunto encheu-o de uma vontade que nunca antes sentira de lutar
contra o fim da crueldade.
Correu de regresso, o mais depressa que lhe
foi possível, para a sua aldeia.
No entanto, os álfars não estavam convictos
de que a Guerra iria chegar ali e que eram assuntos dos Homens nos quais os
seres mágicos não se intrometiam.
Não foi começada por nós, não é entre nós,
não temos parte no assunto, responderam-lhe.
O jovem foi mandado para sua casa descansar
e recuperar das ideias de Humanidade que lhe tinham invadido a mente.
Assim fez, desiludido com o seu povo.
Capítulo III
O dia seguinte amanheceu cheio de sol e um
ambiente calmo, como era normal na aldeia.
Quando o jovem álfar saiu de casa encontrou
vários jovens em frente que o rodearam.
Queremos ir, disseram eles.
I ronde?, perguntou o jovem.
Mudar o mundo, acabar com a Guerra, ajudar
os Homens., responderam eles.
E, assim, uma nova era começou. A era da
Humanidade Alfa.
P.C. Franco
The powers of creation by Louis Dyer http://louisdyer.com/ |